quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Gurupi 61 anos: a cidade que saiu de uma avenida para o terceiro maior município do Tocantins


Município se tornou independente há exatos 61 anos, em 14 de novembro de 1958, se tornando uma irmã de Araguaína, mas que tomou caminhos diferentes, sendo conhecida como a “capital da amizade”



Fonte: Luane dos Santos
Jornal do Tocantins

Desfile cívico de Gurupi em 1967 (Foto: Arquivo Pessoal/Roberto José)


“Eu cheguei em Gurupi quando aqui nem Gurupi era ainda”. É assim que começa o relato de Roberto José Ribeiro, 75 anos, atual presidente da Academia Gurupiense de Letras e pioneiro de uma cidade que ainda não existia. Criada na divisa entre as águas dos rios Araguaia e Tocantins, o município se tornou independente há exatos 61 anos, em 14 de novembro de 1958, se tornando uma irmã de Araguaína, mas que tomou caminhos diferentes, sendo conhecida como a “capital da amizade”.

Quatro anos antes, no cair da noite de 23 de dezembro de 1953, Ribeiro, então com sete anos, colocou os pés no local que ainda se chamava Matas do Gurupi. “Viemos de pau de arara até no rio Cana Brava e de lá para cá viemos a pé cortando rua, pegamos três dias de viagem onde agora se faz em 30 minutos”, lembra.

Na época, Ribeiro lembra bem que o distrito tinha uma trilha, chamada pelo seu fundador Benjamin Rodrigues Nogueira de Avenida Central, mas passou por diversos nomes até os dias atuais, sendo denominada Avenida Goiás. “Benjamin gostava de escrever cartas falando bem de Gurupi, ele era o maior publicitário da cidade. Colocava no envelope sem destinatário e uma delas chegou a um amigo do meu avô. Ela dizia que aqui era um lugar de família, uma terra de Deus, terra boa que uma cana dava dez rapaduras”, comenta, sorrindo.

Com isso, seu avô, juntamente com a família decidiu ir para a região, mas a realidade que Ribeiro encontrou foi diferente. “O mais visível era a malária, em quatro meses morreram 13 pessoas da minha família. O cemitério velho na época tinha três sepulturas. Na época tinha muita hanseníase que chamavam de lepra, a verminose era terrível e as mulheres morriam muito de parto. O Benjamin que dava remédio, fazia garrafada, mas quando adoecia precisava ir para Porto Nacional a cavalo, era muito difícil”, frisa.

Também era preciso ir para Porto Nacional para estudar a partir da quinta série, o que fez Ribeiro. “Eu estudei lá, depois fui para o Goiás fazer Magistério e decidi voltar tempos depois por causa da família”, explica.

Um dos momentos mais importantes para o então distrito foi sua independência assinada em 1958. “Nos primeiros anos nós tivemos dois prefeitos nomeados e a primeira eleição foi só em 3 outubro de 60. Nos primeiros anos não havia muita comemoração no aniversário da cidade, só quando o Centro Educacional Fé e Alegria Bernardo Sayão começou a comemorar já em 1967, com jogos, peças teatrais, coisas cívicas, com os cinco policiais que tinha na cidade toda”, frisa.
Com isso, a cidade começou a ter a tradição de fazer dois desfiles cívicos por ano: no aniversário da cidade e em 7 de setembro. “Era algo muito bom, todos voltavam molhados porque sempre chovia no dia, mas era realmente um dia de felicidade”, relembra.

Desenvolvimento
Formado em Magistério e Contabilidade, Ribeiro começou sua carreira na cidade como professor do então Ginásio Estadual de Gurupi, escola que era tida como a maior da região e ajudou no desenvolvimento da cidade devido a vinda de pessoas dos municípios vizinhos para estudar.
“Eu me considero um dos pioneiros, estudei na primeira escola, fui o primeiro professor no exame de admissão, quando estudava o ginásio. Na época a gente ensinava o que sabia porque não tinha professores especializados ou as escolas não funcionava. Também fui eleito vereador duas vezes e ajudei a fundar a universidade Fasic, também apoiei a construção do presídio de Cariri, foram muitas coisas que vi nascer e crescer aqui”, afirma.

Ribeiro também viu a chegada da BR-153 e da Belém-Brasília, duas coisas que alavancaram a cidade, hoje considerada polo regional. “Hoje a cidade é dez vezes maior do que era antes, uma cidade grande, bem cuidada. A gente fica orgulhoso porque chegou aqui quando só tinha a avenida Goiás, tudo casa de palha e tem dias que fico procurando uma placa para ver em qual avenida estou porque mudou tudo, está muito bonita”, completa o pioneiro que já escreveu três livros sobre a história da cidade e hoje preside a Academia e também o Instituto Histórico e Cultural de Gurupi.

Política
Em 1954, também povoou o distrito de Gurupi o pioneiro Rômulo Leitão Brito, 87 anos, um dos primeiros vereadores após a independência da cidade. Após se casar com Ana Mariulte Cunha Brito, em 1958, o jovem casal começou a criar raízes na cidade com o nascimento de um dos filhos, Núbio Cunho Brito, nascido um ano antes da criação do município. “Meus pais sempre me contaram muitas lembranças e eu também por ter nascido em 1959 vejo como tudo mudou. Quando eu era criança, nós vivíamos com muita simplicidade. Até os 15 anos eu andava descalço”, comenta.

“Gurupi era uma cidade muito família, predominava famílias do Maranhão e Pernambuco, vários estados do Nordeste, depois vieram de outros estados como Minas Gerais, e por volta da década de 80 veio o êxodo dos sulistas com a plantação de arroz em Formoso do Araguaia e começou a mudar verdadeiramente a história de Gurupi”, lembra Núbio, hoje com 60 anos, jornalista e também considerado um pioneiro na área da comunicação, tendo sido o 2º apresentador da TV Anhanguera em Gurupi.

“Nós tivemos um papel interessante no processo comunicacional da cidade, também construímos outras funções para a cidade, ajudamos a criar o Globo Esporte Tocantins, fizemos abaixo assinado e tudo”, lembra.

Núbio lembra que seu pai foi vereador da Câmara de Gurupi por três mandados entre os anos de 63 e 72. “Ele me levava para a sessão da Câmara de bicicleta, era uma época muito feliz e me trouxe muita saudade. Ele teve uma trajetória política muito boa, dava prioridade as pessoas mais simples e da zona rural, se envolveu muito com essa comunidade”, comenta.

Para o jornalista, a cidade deve seu crescimento a dinamicidade da população. “O que mais mudou em todo esse tempo é a lógica de um município em desenvolvimento. A cada administrador que assumiu, ele deu uma contribuição muito importante, enfrentando as diversidades, as dificuldades, mas de certa forma Gurupi nunca dependeu muito de político para crescer, por si só a comunidade se superava e assim exercendo sua função desse contexto”, explica Núbio.


Cultura
Eliosmar Veloso, escritor e editor, vice-presidente da AGL

Eliosmar Veloso, de 57 anos, pode ser considerado um pioneiro de uma época mais nova da cidade: a cultura. Morador de Gurupi há 36 anos, ele conta que chegou na cidade para visitar familiares e resolveu ficar. “Quando eu cheguei ainda era uma cidade pequena, na época nós tínhamos 16 ou 17 setores, hoje tem mais de 200, do outro lado da BR-153 não existia, e hoje é a maior parte da cidade”, lembra.

Veloso passou por diversas profissões até se engajar na área cultural da cidade, tendo sido membro fundador da Academia Gurupiense de Letras e atualmente vice-presidente. Em 1996 foi coordenador de Cultura, época em que ajudou a firmar o cenário cultural de Gurupi. “Construímos o Centro Cultural Mauro Cunha que hoje é o Centro de Convenções Mauro Cunha. Também lembro que fizemos os primeiros projetos regimento e tornamos o centro um espaço que respirava cultura, com peças, shows musicais, exposições de arte”, frisa, lembrando que o local atendia quase 1500 alunos entre quatro e 82 anos.

Veloso também lembra das semanas culturais de Gurupi, evento que tornou a cidade um destaque na área. “Nessa época, entre 70 e 85 a cultura começou realmente a se movimentar na cidade. Nós respirávamos cultura. Eu também criei um dos 10 grupos teatrais da cidade, o Grutama, Grupo Teatral Amazonas, que toquei durante 20 anos e fizemos parte de todo esse processo”, comenta.

Já em 1998, Veloso fundou uma editora e gráfica de livros, considerada a primeira do Estado.  “Decidi criar porque eu também escrevo, publiquei meu primeiro livro em 1986 e tive muitas dificuldades de publicar, Eu lembro que comecei a fazer meu livro, comprei um computador, uma impressora e imprimi. Aí mostrando para um amigo, fiz o dele também e assim começamos. Hoje temos mais de 4 mil escritores em todo o País e quase 5 mil títulos publicados”, explica.

“Gurupi é a minha casa, criei minha família aqui, é uma cidade que cresceu muito nesse tempo, não só em população, mas em beleza. Ainda há muito o que fazer, precisamos de um shopping, cresceu muito, virou uma cidade universitária, todo mundo pode fazer sua vida na cidade, como eu fiz a minha”, completa o editor.


Gestão
A cidade teve sua primeira contagem populacional em 1996, quando tinha 15.859 habitantes, segundo o IBGE. Ao longo dos anos, Gurupi se desenvolveu e hoje é a casa de 86.647 pessoas. Para o atual prefeito Laurez Moreira, Gurupi é uma cidade modelo. “Hoje temos uma cidade com ruas bem conservadas, estamos conseguindo levar várias indústrias para o Município, cidade agradável com as ruas limpas. Conseguimos resgatar a nossa diversidade, com investimentos e ampliação da universidade, se tornando também uma cidade universitária”, comenta o gestor.

“A marca que tenho deixado para a cidade é de seriedade, de investimento, de preocupação com todas as áreas, desde agricultura até ciência e tecnologia, entendemos que o poder público tem que olhar como um todo para a cidade, para saúde, educação, assistência social, desenvolvimento econômico. Nós estamos no sexto ano de gestão em todas as áreas da administração, me deixa muito feliz os avanços que tivemos”, elenca.

Moreira frisa que, como gestor público, tem responsabilidade com o cuidado com o servidor e com o desenvolvimento econômico da cidade, além de melhorias na saúde com construção de unidades, centros especializados. “Nos tornamos uma das cidades com os menores índices de endemias”, lembra.

O prefeito também comenta que hoje as pessoas se sentem pertencentes ao Município e isso deve ser comemorado. “Eu assumi Gurupi e percebia que tinha uma população que não tinha orgulho da cidade, mas conseguimos mudar o destino de muita gente com melhorias de escolas, universidade, e também melhorar a paisagem do lugar, tornar a cidade bonita”, complementa.

O gestor deixou ainda uma mensagem para a população em comemoração ao aniversário de 61 anos. “Eu estou muito feliz, a cidade está crescendo muito e coisas importantes ainda vão acontecer na região, como a efetivação da ferrovia, a duplicação da BR-153, a travessia da ilha do bananal e são três eventos grandes prestes a acontecer e me deixa feliz em saber que a cidade ainda vai passar por uma transformação, não tenho dúvida que será uma das cidades brasileiras que mais vai se desenvolver nos próximos dez anos”, finaliza.




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