Município se tornou independente há exatos 61 anos, em 14
de novembro de 1958, se tornando uma irmã de Araguaína, mas que tomou caminhos
diferentes, sendo conhecida como a “capital da amizade”
Fonte: Luane dos Santos
Jornal do Tocantins
Jornal do Tocantins
Desfile cívico de Gurupi em 1967
(Foto: Arquivo Pessoal/Roberto José)
|
“Eu cheguei em Gurupi quando aqui nem Gurupi era ainda”. É assim que
começa o relato de Roberto José Ribeiro, 75 anos, atual presidente da Academia
Gurupiense de Letras e pioneiro de uma cidade que ainda não existia. Criada na
divisa entre as águas dos rios Araguaia e Tocantins, o município se tornou
independente há exatos 61 anos, em 14 de novembro de 1958, se tornando uma irmã
de Araguaína, mas que tomou caminhos diferentes, sendo conhecida como a
“capital da amizade”.
Quatro anos antes, no cair da noite de 23 de dezembro de 1953, Ribeiro, então com sete anos, colocou os pés no local que ainda se chamava Matas do Gurupi. “Viemos de pau de arara até no rio Cana Brava e de lá para cá viemos a pé cortando rua, pegamos três dias de viagem onde agora se faz em 30 minutos”, lembra.
Na época, Ribeiro lembra bem que o distrito tinha uma trilha, chamada pelo seu fundador Benjamin Rodrigues Nogueira de Avenida Central, mas passou por diversos nomes até os dias atuais, sendo denominada Avenida Goiás. “Benjamin gostava de escrever cartas falando bem de Gurupi, ele era o maior publicitário da cidade. Colocava no envelope sem destinatário e uma delas chegou a um amigo do meu avô. Ela dizia que aqui era um lugar de família, uma terra de Deus, terra boa que uma cana dava dez rapaduras”, comenta, sorrindo.
Com isso, seu avô, juntamente com a família decidiu ir para a região, mas a realidade que Ribeiro encontrou foi diferente. “O mais visível era a malária, em quatro meses morreram 13 pessoas da minha família. O cemitério velho na época tinha três sepulturas. Na época tinha muita hanseníase que chamavam de lepra, a verminose era terrível e as mulheres morriam muito de parto. O Benjamin que dava remédio, fazia garrafada, mas quando adoecia precisava ir para Porto Nacional a cavalo, era muito difícil”, frisa.
Também era preciso ir para Porto Nacional para estudar a partir da quinta série, o que fez Ribeiro. “Eu estudei lá, depois fui para o Goiás fazer Magistério e decidi voltar tempos depois por causa da família”, explica.
Um dos momentos mais importantes para o então distrito foi sua
independência assinada em 1958. “Nos primeiros anos nós tivemos dois prefeitos
nomeados e a primeira eleição foi só em 3 outubro de 60. Nos primeiros anos não
havia muita comemoração no aniversário da cidade, só quando o Centro
Educacional Fé e Alegria Bernardo Sayão começou a comemorar já em 1967, com
jogos, peças teatrais, coisas cívicas, com os cinco policiais que tinha na
cidade toda”, frisa.
Com isso, a cidade começou a ter a tradição de fazer dois desfiles
cívicos por ano: no aniversário da cidade e em 7 de setembro. “Era algo muito
bom, todos voltavam molhados porque sempre chovia no dia, mas era realmente um
dia de felicidade”, relembra.
Desenvolvimento
Formado em Magistério e Contabilidade, Ribeiro começou sua carreira na
cidade como professor do então Ginásio Estadual de Gurupi, escola que era tida
como a maior da região e ajudou no desenvolvimento da cidade devido a vinda de
pessoas dos municípios vizinhos para estudar.
“Eu me considero um dos pioneiros, estudei na primeira escola, fui o
primeiro professor no exame de admissão, quando estudava o ginásio. Na época a
gente ensinava o que sabia porque não tinha professores especializados ou as
escolas não funcionava. Também fui eleito vereador duas vezes e ajudei a fundar
a universidade Fasic, também apoiei a construção do presídio de Cariri, foram
muitas coisas que vi nascer e crescer aqui”, afirma.
Ribeiro também viu a chegada da BR-153 e da Belém-Brasília, duas coisas
que alavancaram a cidade, hoje considerada polo regional. “Hoje a cidade é dez
vezes maior do que era antes, uma cidade grande, bem cuidada. A gente fica
orgulhoso porque chegou aqui quando só tinha a avenida Goiás, tudo casa de
palha e tem dias que fico procurando uma placa para ver em qual avenida estou
porque mudou tudo, está muito bonita”, completa o pioneiro que já escreveu três
livros sobre a história da cidade e hoje preside a Academia e também o
Instituto Histórico e Cultural de Gurupi.
Política
Em 1954, também povoou o distrito de Gurupi o pioneiro Rômulo Leitão
Brito, 87 anos, um dos primeiros vereadores após a independência da cidade.
Após se casar com Ana Mariulte Cunha Brito, em 1958, o jovem casal começou a
criar raízes na cidade com o nascimento de um dos filhos, Núbio Cunho Brito,
nascido um ano antes da criação do município. “Meus pais sempre me contaram
muitas lembranças e eu também por ter nascido em 1959 vejo como tudo mudou.
Quando eu era criança, nós vivíamos com muita simplicidade. Até os 15 anos eu
andava descalço”, comenta.
“Gurupi era uma cidade muito família, predominava famílias do Maranhão e
Pernambuco, vários estados do Nordeste, depois vieram de outros estados como
Minas Gerais, e por volta da década de 80 veio o êxodo dos sulistas com a
plantação de arroz em Formoso do Araguaia e começou a mudar verdadeiramente a
história de Gurupi”, lembra Núbio, hoje com 60 anos, jornalista e também
considerado um pioneiro na área da comunicação, tendo sido o 2º apresentador da
TV Anhanguera em Gurupi.
“Nós tivemos um papel interessante no processo comunicacional da cidade,
também construímos outras funções para a cidade, ajudamos a criar o Globo
Esporte Tocantins, fizemos abaixo assinado e tudo”, lembra.
Núbio lembra que seu pai foi vereador da Câmara de Gurupi por três
mandados entre os anos de 63 e 72. “Ele me levava para a sessão da Câmara de
bicicleta, era uma época muito feliz e me trouxe muita saudade. Ele teve uma
trajetória política muito boa, dava prioridade as pessoas mais simples e da
zona rural, se envolveu muito com essa comunidade”, comenta.
Para o jornalista, a cidade deve seu crescimento a dinamicidade da
população. “O que mais mudou em todo esse tempo é a lógica de um município em
desenvolvimento. A cada administrador que assumiu, ele deu uma contribuição
muito importante, enfrentando as diversidades, as dificuldades, mas de certa
forma Gurupi nunca dependeu muito de político para crescer, por si só a
comunidade se superava e assim exercendo sua função desse contexto”, explica
Núbio.
Eliosmar Veloso, de 57 anos, pode ser considerado um pioneiro de uma
época mais nova da cidade: a cultura. Morador de Gurupi há 36 anos, ele conta
que chegou na cidade para visitar familiares e resolveu ficar. “Quando eu
cheguei ainda era uma cidade pequena, na época nós tínhamos 16 ou 17 setores,
hoje tem mais de 200, do outro lado da BR-153 não existia, e hoje é a maior
parte da cidade”, lembra.
Veloso passou por diversas profissões até se engajar na área cultural da
cidade, tendo sido membro fundador da Academia Gurupiense de Letras e
atualmente vice-presidente. Em 1996 foi coordenador de Cultura, época em que
ajudou a firmar o cenário cultural de Gurupi. “Construímos o Centro Cultural
Mauro Cunha que hoje é o Centro de Convenções Mauro Cunha. Também lembro que
fizemos os primeiros projetos regimento e tornamos o centro um espaço que
respirava cultura, com peças, shows musicais, exposições de arte”, frisa,
lembrando que o local atendia quase 1500 alunos entre quatro e 82 anos.
Veloso também lembra das semanas culturais de Gurupi, evento que tornou a cidade um destaque na área. “Nessa época, entre 70 e 85 a cultura começou realmente a se movimentar na cidade. Nós respirávamos cultura. Eu também criei um dos 10 grupos teatrais da cidade, o Grutama, Grupo Teatral Amazonas, que toquei durante 20 anos e fizemos parte de todo esse processo”, comenta.
Já em 1998, Veloso fundou uma editora e gráfica de livros, considerada a primeira do Estado. “Decidi criar porque eu também escrevo, publiquei meu primeiro livro em 1986 e tive muitas dificuldades de publicar, Eu lembro que comecei a fazer meu livro, comprei um computador, uma impressora e imprimi. Aí mostrando para um amigo, fiz o dele também e assim começamos. Hoje temos mais de 4 mil escritores em todo o País e quase 5 mil títulos publicados”, explica.
“Gurupi é a minha casa, criei minha família aqui, é uma cidade que cresceu muito nesse tempo, não só em população, mas em beleza. Ainda há muito o que fazer, precisamos de um shopping, cresceu muito, virou uma cidade universitária, todo mundo pode fazer sua vida na cidade, como eu fiz a minha”, completa o editor.
Gestão
A cidade teve sua primeira contagem populacional em 1996, quando tinha
15.859 habitantes, segundo o IBGE. Ao longo dos anos, Gurupi se desenvolveu e
hoje é a casa de 86.647 pessoas. Para o atual prefeito Laurez Moreira, Gurupi é
uma cidade modelo. “Hoje temos uma cidade com ruas bem conservadas, estamos
conseguindo levar várias indústrias para o Município, cidade agradável com as
ruas limpas. Conseguimos resgatar a nossa diversidade, com investimentos e
ampliação da universidade, se tornando também uma cidade universitária”,
comenta o gestor.
“A marca que tenho deixado para a cidade é de seriedade, de investimento, de preocupação com todas as áreas, desde agricultura até ciência e tecnologia, entendemos que o poder público tem que olhar como um todo para a cidade, para saúde, educação, assistência social, desenvolvimento econômico. Nós estamos no sexto ano de gestão em todas as áreas da administração, me deixa muito feliz os avanços que tivemos”, elenca.
Moreira frisa que, como gestor público, tem responsabilidade com o cuidado com o servidor e com o desenvolvimento econômico da cidade, além de melhorias na saúde com construção de unidades, centros especializados. “Nos tornamos uma das cidades com os menores índices de endemias”, lembra.
O prefeito também comenta que hoje as pessoas se sentem pertencentes ao Município e isso deve ser comemorado. “Eu assumi Gurupi e percebia que tinha uma população que não tinha orgulho da cidade, mas conseguimos mudar o destino de muita gente com melhorias de escolas, universidade, e também melhorar a paisagem do lugar, tornar a cidade bonita”, complementa.
O gestor deixou ainda uma mensagem para a população em comemoração ao aniversário de 61 anos. “Eu estou muito feliz, a cidade está crescendo muito e coisas importantes ainda vão acontecer na região, como a efetivação da ferrovia, a duplicação da BR-153, a travessia da ilha do bananal e são três eventos grandes prestes a acontecer e me deixa feliz em saber que a cidade ainda vai passar por uma transformação, não tenho dúvida que será uma das cidades brasileiras que mais vai se desenvolver nos próximos dez anos”, finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário